domingo, 30 de dezembro de 2018

Bem-te-vi

Aves e sol na manhã
Bem que vi, bem que ouvi
Ecoo o bem-te-vi.

Das filhas e das dores

Resisto ao desejo: vê-las sem dores.
Ao contrário de Galeano, a Deus não pedi que as dores delas me fossem destinadas.
Mesmo que assim desejasse, não poderia fazê-lo.
Deus não há!
Na vida, já tiveram sua cota.
De dores. Eu também.
Sobrevivemos.
Outras virão. Sobreviveremos.
Neste tempo, entre a luz e a escuridão final, fiz e farei alguns dos curativos de suas feridas.
E elas, dos meus.
As outras dores?
Outros e outras trataram e tratarão.
Algumas, cada um cuidou por conta própria.
Todas parte da vida.
A vida de cada um. Que tem que ser vivida por si mesmo.
Soletiva.
Uma mescla de só e coletiva.

Beira-mar

Manhã de sol
Mar agitado
Eu sossegado

Sem título

Anoitece
No fim da tarde
Alguém tece

Avião

O rugido do avião
Me lembrou um leão
Segurei a sua mão.

No meio de uma nuvem
Que meus olhos não se turvem
E meus medos não me curvem.

De repente, uma ave de rapina
Minha alma desatina
Que ideia mais cretina.

Tremor de turbulência
Ainda bem que não é flatulência
Não faria bem pra ambiência.

Não importa o destino
Nem com sol a pino
Revelo meu desejo clandestino.

Vôo assim na imaginação
Já que pra minha nação
Surreal é a solução.

Lados

um lado obscuro
do qual não me curo
mas não me sinto impuro

um lado opaco
do qual não escapo
mas não me sinto fraco

um lado translúcido
do qual não me furto
mas ainda sigo lúcido

um lado sombrio
do qual não sorrio
mas mantenho o brio

um lado assombrado
do qual não brado
mas sigo pelo alambrado

um lado tangente
que me dá dor pungente
quando vejo essa gente