Aves e sol na manhã
Bem que vi, bem que ouvi
Ecoo o bem-te-vi.
Um haikai ao dia, prazer, paz, emoção, e muita alegria (Fernando Antono Prado Gimenez)
domingo, 30 de dezembro de 2018
Bem-te-vi
Das filhas e das dores
Resisto ao desejo: vê-las sem dores.
Ao contrário de Galeano, a Deus não pedi que as dores delas me fossem destinadas.
Mesmo que assim desejasse, não poderia fazê-lo.
Deus não há!
Na vida, já tiveram sua cota.
De dores. Eu também.
Sobrevivemos.
Outras virão. Sobreviveremos.
Neste tempo, entre a luz e a escuridão final, fiz e farei alguns dos curativos de suas feridas.
E elas, dos meus.
As outras dores?
Outros e outras trataram e tratarão.
Algumas, cada um cuidou por conta própria.
Todas parte da vida.
A vida de cada um. Que tem que ser vivida por si mesmo.
Soletiva.
Uma mescla de só e coletiva.
Beira-mar
Manhã de sol
Mar agitado
Eu sossegado
Sem título
Anoitece
No fim da tarde
Alguém tece
Avião
O rugido do avião
Me lembrou um leão
Segurei a sua mão.
No meio de uma nuvem
Que meus olhos não se turvem
E meus medos não me curvem.
De repente, uma ave de rapina
Minha alma desatina
Que ideia mais cretina.
Tremor de turbulência
Ainda bem que não é flatulência
Não faria bem pra ambiência.
Não importa o destino
Nem com sol a pino
Revelo meu desejo clandestino.
Vôo assim na imaginação
Já que pra minha nação
Surreal é a solução.
Lados
um lado obscuro
do qual não me curo
mas não me sinto impuro
um lado opaco
do qual não escapo
mas não me sinto fraco
um lado translúcido
do qual não me furto
mas ainda sigo lúcido
um lado sombrio
do qual não sorrio
mas mantenho o brio
um lado assombrado
do qual não brado
mas sigo pelo alambrado
um lado tangente
que me dá dor pungente
quando vejo essa gente
sábado, 6 de outubro de 2018
A poeta que esquecia
A poeta escrevia um verso
Só não lembrava o substantivo
Para o verbo intransitivo.
Que tinha uma serventia
Sem ele ficava incompleto o verso
Naquela tarde primaveril
Em que frio muito fazia.
Que o verso impedia
Inventou um nome de momento
Para escrever o que queria
Enganando o esquecimento.
Para completar um verso
Todo aquele que é poeta
Se vale do diverso
Que a precisão desperta.
domingo, 23 de setembro de 2018
Zeca Poeta
Com seus versos, me inundei
Com suas dores, me desconsolei
Com suas crenças, me desacreditei
Com seus amores, me despedacei
Com suas idades, me enxarquei
Com tudo, contudo,
Mas com tudo mesmo,
Me iluminei.
(Após ler "O velho e alguns escritos" de Zeca Corrêa Leite)
quarta-feira, 12 de setembro de 2018
Fluindo
(Completando um tema inacabado)
Me imagino fluído
Escorrendo pela vida
Contornando muros
Esvaindo por ralos
Acumulando em vasilhas
Empoçando nas calçadas
Represado pelas dúvidas
Rompendo as barreiras
Incontido como uma queda d'água
Mergulhando no infinito
Vaporizando o acaso
Revolvendo o destino
Umedecendo seus lábios
Afogando as impossibilidades
Me imagino fluído
Já fui rio, agora sorrio.
sexta-feira, 7 de setembro de 2018
Nostalgia
Meu universo imaginado foi repaginado.
Nele cabia um antes, um agora e um depois.
O depois estava nas páginas finais,
O antes nas iniciais.
O agora ocupava a única página central.
A primeira metade cheia de fantasmas,
A segunda plena de vazios, e
No meio vida escorria.
Arranquei as páginas iniciais.
O antes foi para as finais.
O depois apaguei com corretor.
Não seria o que prometia.
O agora já não flui. Ficou sem página.
sábado, 1 de setembro de 2018
Limo(u)nada
Lá fora, um sol
Na janela, um olhar
Na mente, um desejo
Na vida, a esperança.
Ah! Se tudo fosse sempre assim tão simples,
Com um limão eu faria a famosa limonada.
Ou nada!
sexta-feira, 17 de agosto de 2018
Feelings
A story is being told
And I'm still feeling bold.
Life's storming through
And I'm still found of you.
Your face is turning pale
And I'm still drinking ale.
You are looking divine
And I'm still your valentine.
quarta-feira, 15 de agosto de 2018
Seis Haicais - ensaio sobre a simplicidade
Chá de hortelã
No Jardim de inverno
Pra febre terçã.
Em cima do armário
Gato preto espreita
Peixe no aquário.
Barco de papel
Nas enxurradas de março
Carrega seu fel.
Outono seco
Cão ladra irrequieto
No escuro beco.
Folha caída
Vento forte carrega
Vida partida.
No tronco liso
Da goiabeira perdeu
Juízo e dente do siso.
segunda-feira, 6 de agosto de 2018
Antologia
domingo, 22 de julho de 2018
Representações
i
b
u
Sempre s
E depois d
e
s
c
i
a
De vez em quando,
z e u a.
i u z g e v
g a a
No meio do caminho,
d i s p a r a v a.....
Para logo, em seguida,
d e s a c elerar.
Até que encontrava o . final
Neologismo
Como Bandeira, vezenquando, invento palavras.
Edramar, verbo intransitivo:
Depois que encontrei Edra,
Edramei perdidamente!
sábado, 21 de julho de 2018
Da infância
Deitado com as costas nuas,
Lembro do piso frio de vermelhão.
Nas tardes de muito pó
Nas noites de brancas luas
Voou minha imaginação.
sexta-feira, 20 de julho de 2018
Cio
Meu desejo eriça
Todo seu cheiro
Minha alma enfeitiça
Toda você
É minha cobiça
Todo seu corpo
Meu cio atiça
Saciado, me entrego
À doce preguiça.
segunda-feira, 16 de julho de 2018
São Francisco do Sul
Mar frio de inverno
Gaivota dança
segunda-feira, 9 de julho de 2018
Brilho Futuro
No meio-fio
Penso um pouco torto
Mente vagante
No meio da rua
Com a lua minguante
A esmo no asfalto
A meio caminho
Do lugar que me falto
Tíquete amarelado
No meio do livro
Sonho guardado
Memórias nubladas
No meio da vida
De dores passadas
Ensaio outro passo
Em meio a tudo
Futuro não brilhe em falso
sexta-feira, 29 de junho de 2018
Sabor
Me espanto como me esquenta
Seu sexo sabe a melado
Me lambuzo por todo lado
Seu sexo sabe a hortelã
Me inspiro toda manhã
Seu sexo sabe a anis
Me lembro de sonhos juvenis
Seu sexo sabe a chocolate
Me escondo do cão que late
Seu sexo sabe a manga
Me enrosco em sua canga
Seu sexo sabe a uva
Me derreto em sua vulva
Seu sexo sabe a jambo
Me acordo todo mulambo
Seu sexo sabe ao que quero
Me entrego sem lero-lero
Seu sexo sabe a loucura
Me salvo, é minha cura.
segunda-feira, 25 de junho de 2018
Perfume de fêmea
Marcas na cama
Presença etérea
Meus sonhos zele
sábado, 16 de junho de 2018
Luz e sombras
Reais me pareciam.
De repente, sem razão
Ao sol do meio dia
Sob meus pés desapareciam.
Me dei conta então
De que a luz que me aquecia
É a mesma que sombras construía.
Fez-se a luz. Sombras também. Que ironia.
Persisto
Não sei se resisto
Foi tão imprevisto
É algo que não tinha ainda visto
Foi de repente, insisto
Não sei o que fazer disto
Mas, sei que quero isto.
Por isto persisto
De você não me disto.
quinta-feira, 14 de junho de 2018
Quase inverno
Nuvens escondem lua
Passos apressados na rua
Quase inverno
Lágrimas escorrendo
Salgam canto da boca
Quase inverno
Cão ladra na noite
Lua escapa das nuvens
domingo, 20 de maio de 2018
Ritmo
Sem pressa
Pra não haver contratempo
Pra não precisar compressa
Pra que haja cura
Do que já pareceu loucura
Da luz que se fez escura
Que logo será somente
Doce lembrança na mente
Aí, poderemos então
Dar uma chance pra sorte
E deixar que nova paixão
Nos leve a outro norte
Que faça surgir na escuridão
Luz que brilha mais forte.
segunda-feira, 14 de maio de 2018
Se eu fosse
Uma cantiga te escreveria
Se eu fosse Neruda
Do amor te falaria
Se eu fosse Chaplin
Na ribalta te colocaria
Mas, como sou apenas eu
Pra você tudo faria.
terça-feira, 1 de maio de 2018
Seca
Depois das águas de abril
Maio surgiu seco.
Um caminho se fez beco
Amarrei o meu cadarço
E outro se abriu.
sábado, 31 de março de 2018
Café sem ela
Dessa vez sem ela
Me preparo para o terceiro ato
Dessa vez sem ela
Talvez monólogo
Dessa vez sem ela
Talvez em dupla
Dessa vez sem ela
Certamente protagonista
Enfrentando qualquer antagonista
Dessa vez sem ela
Pra platéia a vida em tela.
quarta-feira, 7 de março de 2018
Dor
Poeta fingidor finge que é dor
A dor que deveras sente
Já disse Pessoa
Me diga você então
Como resistir a essa dor
Que não quero fingir
Pois, poeta, já não quero doer
Me diga você...
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018
Um minuto
De repente fico puto
Me bate um luto
Fico sem um puto
Mas no meu canto luto
Procuro um fruto
O balde chuto
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018
Cacofonia
Na mente confusão
Na vida cacofonia
sexta-feira, 12 de janeiro de 2018
Mal caminho
Era um pedaço de mal caminho
Explorei cada e toda parte
Com mãos, pele, boca, corpo e sexo
Este caminho não se faz caminhando
Se faz gozando
Sem culpa
Com prazer
Igual ao que se faz caminhando.