domingo, 7 de janeiro de 2024

Haibun

Primeiro domingo do ano. Entre oito e nove horas a caminhada matinal. Ao longo da estrada de ferro. Hibiscos vermelhos e rosas junto à cerca do Jardim Botânico. Em um jardim cultivado por vizinhos, girassois, margaridas e outras flores do verão atraem o olhar do caminhante. Do trem de passageiros, que desce em direção ao litoral, um menino acena. Surge um sorriso. Mais à frente, um andarilho, com mochila às costas, pergunta a direção da BR 277. Siga a linha de trem é a resposta. Acompanhada do alerta: É longe! Em alguns trechos, o alívio das sombras que margeiam a calçada. Breve refresco. O sol matinal faz o caminhante suar.

Caminho florido
ao longo da linha férrea.
Dias de verão.

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Haibun de praia

Na praia de Ubatuba em São Francisco do Sul, o mar está como se fosse uma piscina. Ondas suaves me atingem enquanto o penetro. Avanço cerca de 20 metros e a água alcanca apenas a altura de minha cintura. Flutuo de costas. O mar me balança de forma ritmada. Meu corpo pouco oscila.  Para cima. Para baixo. Para cima. Para baixo. Tento sincronizar a respiração ao fluxo das ondas que por mim passam. Tarefa difícil. Acima de mim, apenas um céu azul, sem nuvens e sol quase a pino. Saio do mar. Em busca do almoço. Tempo de férias! A mente, assim como o corpo, relaxa. No final da tarde ou começo da noite, retorno à mesma praia. Quase sete horas, a lua já aparece, mas os raios de sol ainda clareiam a praia. Logo à minha frente, brincadeira infantil me traz memória de infância.

Dia longo de verão -
Guri empina pipa
descalço na areia.

Haibun (?)

A manhã surgiu nublada. Mesmo assim fui à praia. A meu lado uma mulher simples. Descrição feita por ela mesmo. Junto às nuvens do céu, uma brisa mais intensa. Quase vento. Depois da lida com o guarda-sol, sempre um problema, me dou conta de que face à falta de sol e a brisa forte, é melhor que fique fechado. Retomo a leitura de 26 Poetas Hoje. Antologia organizada por Heloísa Buarque de Holanda. De repente, uma jovem se aproxima. Nas mãos o que parecem ser cardápios de algum bar. Não me engano. São mesmo. Porém, antes de oferecer os seus produtos, ela me pergunta o que leio. Poesia. É a minha resposta. Surpresa, revela que, quando em Bariloche, escreveu um poema forte, de ruptura. Pergunto por seu nome. Bianca. A meu lado, a mulher simples pede que Bianca declame seu poema. Em São Francisco do Sul, Bianca nos conta da dor de uma separação. Lindo poema na voz de uma garota. De repente, me dou conta de que, aquela jovem já sofrera em Bariloche, enquanto eu nunca lá estive. Depois da poesia, o pedido trivial: duas longnecks e uma água sem gás.

Menina poeta
declama versos argentinos -
Um amor partido.

Haibun

Depois da breve chuva, o sol brilha novamente. No mar aberto, navios rumam para o porto de São Francisco do Sul. O incessante vai-e-vem das ondas e seu barulho de arrebentação marcam o ritmo da manhã. Depois da curta caminhada de ida e volta na Prainha, observo o movimento das pessoas. Bandeiras vermelhas por quase toda a praia alertam para os perigos do mar. Duas pequenas faixas da praia estão liberadas para banho. Vezenquando um banhista incauto se aventura nas zonas perigosas. Sem demora, é possível ouvir os apitos dos guarda-vidas. Bolhas de sabão, oriundas de um brinquedo, passam por mim guiadas pelo vento. Efêmeras. Logo explodem e seu brilho desaparece no ar. Porém, o mar brilha de forma contínua. Os raios solares refletidos na superfície irrequieta das ondas. Alaridos de criança me atraem o olhar. Garotinho magrelo, de cabelos loiros, quase brancos, tenta fugir do pai pela areia. 

Guarda-sóis abertos -
Na areia quente da praia
menino a correr.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Haibun na praia

 Deitado na rede. Ouço o piar de alguns pássaros. Céu azul sem nuvens. Brisa movimenta as copas das árvores à margem do riacho distante. Também as samambaias, penduradas no varão da cobertura, se movimentam suavemente. O centrifugar da máquina de lavar roupas se sobrepõe aos ruídos da casa. A tarde se esvai no ritmo da natureza. Flui o tempo. Um pequeno pardal pousa e se balança no fio elétrico que conecta a casa ao poste. Esparramado sobre as lajotas do piso da varanda, o velho cão busca um refresco do calor intenso. De repente, um joão-de-barro trina e revela sua presença oculta em uma amendoeira-da-praia. 


Árvore frondosa

em que canta joão-de-barro -

Verão litorâneo.

sábado, 9 de dezembro de 2023

Haibun

Haibun da manhã

Manhã fria de sábado. Depois de muitos dias de sol e calor intenso, céu nublado e brisa me surpreendem. Durante a caminhada com o velho cão, espirro seguidamente. Uma ou outra passante esboça um sorriso ao caminhar em nossa direção. Sorrio de volta. Ao completar a volta pelo quarteirão, vejo um mendigo sair carregado com muitos pacotes da padaria ao lado do prédio. É costume dos proprietários deixarem produtos para doação em uma cesta na entrada. Sobras que chegam à data de vencimento. Embora não atraiam o interesse de clientes, ainda podem ser consumidas. Alívio temporário da vida severina.

Fome matinal -

No final da primavera

mendigo feliz.

domingo, 3 de dezembro de 2023

Haibun

Céu límpido na manhã de primavera. O sol intenso dos últimos dias prenuncia o verão. No meio da tarde, vendaval agita as cortinas dos apartamentos. Como se fossem braços se estendendo  em súplicas ao céu. A ventania e a chuva deixam traços de folhas caídas nas calçadas.O pedinte se protege à sombra do ponto de taxi. A coleta das esparsas moedas que lhe dão eventuais motoristas no sinal vermelho se interrompe com as intempéries climáticas.

Com verão chegando
vendaval marca trajeto -
Folhas nas calçadas.

domingo, 26 de novembro de 2023

Haibun

Na manhã de domingo, vários cães acompanhados de seus donos caminham nas calçadas da vizinhança. A temperatura amena, com o céu nublado, facilita uma volta mais longa no quarteirão. Os cães matinais estão agressivos. Contidos pelas coleiras se empinam nas patas traseiras, tentando avançar uns contra os outros. Os latidos e rosnados se misturam aos poucos ruídos do bairro que ainda desperta da noite fria.


Cães se confrontam
na manhã primaveril -
Sol ainda encoberto

domingo, 19 de novembro de 2023

Haibun

Haibun

Mais uma vez, percorre o caminho do Botânico. Manhã de sábado. Vários ônibus de turismo estacionados. Ele conta oito. Do interior deles, descem as pessoas. Ele apressa o passo. Na calçada estreita, tenta fugir do aglomero inevitável. Faz um rápido cálculo. 35 veze oito. Duzentos e oitenta passageiros e passageiras. Pelo menos! Na manhã de calor atípico na primavera, ele imagina que será mais difícil o exercício da caminhada diária. De repente, à beira do lago, um movimento rápido. Para e observa.

Na beira do lago
pousa um jovem carcará -
Primavera quente.

domingo, 3 de setembro de 2023

Haibun

Manhã de domingo. Sons do amanhecer. Canto de pássaros e latidos de um cachorro distante. Alguns passos na calçada. Um ônibus arranca após a parada no ponto em frente ao prédio. No apartamento, o velho cão repete seu vai-e-vem matinal. Avisa, a seu jeito, que é hora da caminhada. É provável que a bexiga cheia lhe incomode. Descemos. Nas proximidades da linha do trem, o grasnar de um jacú. Escondido em uma árvore, entre as muitas que ladeiam a ferrovia. Talvez sejam dois. Sempre um casal. As calçadas ainda molhadas da chuva durante à noite. Chuva com vento.  O sol já brilha. Deu as caras depois do sumiço do dia anterior. As flores do ipê amarelo salpicam alguns trechos da caminhada. Prenunciam o final do inverno.


Manhã de domingo -
Flores caem dos ipês
quase primavera.