sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Escambo emocional (um pouco surreal)

Troco uma estranheza
Por um pouco de leveza
Troco uma melancolia
Por uma melancia
Troco um ora veja
Por um saco de cereja
Troco um estremecimento
Por qualquer sentimento
Troco tanto tédio
Pelo seu assédio
Troco um estorpor
Por qualque isopor
Troco esse meu rubor
Pelo seu doce sabor
Troco minha loucura
Por salame meia cura
Nesse escambo imaginário
Só não aceito sofrimento
Em troca desse encantamento.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Saraudades (ou Só em Lisboa)

Só em Lisboa.
Ficar à toa,
Pensar que a vida voa.
Mas falta você,
Pra eu ficar de boa.
Só em Lisboa.
Depois de comer uma broa,
O que será que vem pela proa?
Não importa, queria você
Pra eu ficar de boa.
Só em Lisboa.
Vi tanta coroa,
Ameaça cair garoa.
Sabia meu pai, que sem você,
Não dá pra eu ficar de boa.
Só em Lisboa.
Essa vida que escoa,
Saudade me esboroa.
Vou pra casa ter com você,
Pra eu poder ficar de boa.
Só em Lisboa.
Café também se coa,
De meu sotaque alguém caçoa.
Me lembro como seu sorriso
Me faz ficar de boa.
Só em Lisboa.
Tanta turista alemoa,
Garçom se chama Figueiroa.
Com um pastel de nata,
Finjo que estou numa boa.
Só em Lisboa.
Pensei em ensaboa,
Mas é só uma rima que soa.
Faltam poucas horas
Pra eu ficar de boa.
Só em Lisboa.
Embora isso me doa,
Já que aqui estou à toa.
No Cinema São Jorge, filme francês
Também é uma boa.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Helena e eu

De Helena Kolody em 1989:
Invento uma lua cheia.
Clareia a noite em mim.
Eu em 2015:
Procuro uma lua plena,
Invento de uma tal Helena.
Clareou a noite nela,
Me ajudará se precisar dela.

Depois do filme

Na solidão,
Transborda inspiração.
Na multidão,
Só transpiração.
(Inspirado em Jia Zhang-ke no documentário de Walter Salles)