domingo, 29 de dezembro de 2013

Londrina me inspira

Pastel na feira
domingo de manhã
vida faceira.

Chuva noturna
Londrina me inspira
boa fortuna.

Verão começou
uma brisa matinal
tudo refrescou.

Cantos das aves
fazem trilha matinal
em tons suaves.

Encontrei alguém
do bosque de outrora
pedindo vintém.

De vô Arlindo
nos tempos de criança
lembro sorrindo.

Em um canto
qualquer da memória
um acalanto.

Ora veja você
nesta toada lembrei de
um bilboquê.

Junto presente
com passado, construo
futura(mente).






sábado, 28 de dezembro de 2013

Prédio, janela, chuva, desejo...

Chove lá fora.
De repente vontade
de ir embora.

Tanto tédio
apressou fim da vida
em alto prédio.

Desenvoltura,
na conversa miúda
uma tortura.

Fácil se fez
para seduzir guri
com insensatez.

Intrometida
menina magricela
olha janela.

Adolescente,
muita sede ao pote,
gozo premente.

Quase sessenta
devagar vai ao pote
mal se agüenta.

Flor do desejo
na mente me surge
em um lampejo.

Doce chuvisco
da terra traz cheiro
d'algum hibisco.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Sobretudo sombras

Sombras da noite
aligeiradas passam
em algum sonho.

No fim da vida
rememora sem pressa
noite sombria.

Um sobretudo
esquecido no banco
da praça mudo.

Sob lamparina
sombra da dançarina
alma ferina.

Quando preciso
sem sombra de dúvida
sou um Narciso.

Quem morreu hoje?
No avançar dos anos
companhia foge.

Vi realejo,
carrosel colorido,
sonho benfazejo.

Porta que bate
vento sussurrante
cachorro late.

Dez vezes tentou,
teimoso conitnuou.
Cigana errou!

Senhor, um brinde?
_ Saúde! Não entendi
dela melindre!

Brisa nas folhas
balança minha rede,
só falta você.

Seu corpo quente
me enrijece sempre
que está rente.

Sombras do tempo
em que inconsciente
fui penitente.

Desejo morde?
Com mertiolate não
sara, mas não arde!

Metalinguagem,
para alguns parece
só viadagem.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Dez haicais: Sexo e Amor

Na pele d'outro
suor brota suave 
como orvalho.

Pouco importa 
como, quando gozo
de repente vem.

Mamilos tesos,
camisa transparente,
olhares presos.

Há tantos meios
para encontrar prazer 
com os seus seios.

Houve momentos 
que seu corpo me livrou
dos sofrimentos.

Falo ereto,
mas você não me ouve.
Sofro concreto!

Busco seu sexo
em caminhos diversos 
sem muito nexo.

Sabor na ponta
da língua que avança 
em quem me monta.

Corpos trançados
quase inseparáveis,
nós abraçados.

Acres odores
que sabem a desejo
de meus amores.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Diálogo Verdalso*

Para Sara

O céu aparece cada vez mais nas minhas fotos.
Ih! Será que você vai morrer?
Você acha que eu vou pro céu?
Claro!
Você me diz cada coisa!
É porque te amo.
Imagine se não amasse.
Bobo.
Vem cá.
Hoje não.
Por que?
Tô com dor de cabeça.
Só indo pro céu mesmo!
Bobo.
Vem cá, vem.
Teimoso.
É por que te amo.
Sei...Hum...

* meio verdadeiro, meio falso

sábado, 30 de novembro de 2013

Três Jovens Mulheres

Para Francielly, Juliana e Luisa

Generosas
compartilham sorrindo
felicidade.

Cheias de graça,
por jovialidade,
iluminadas.

Falas tranquilas,
singulares no tema,
ágeis na vida.

Nos seus trajetos,
alguns trechos convergem,
outros são unos.

Sonhos próprios
de guria há pouco
mulher formada.

Jovens florescem,
entre dores e cores,
na força da terra.

Eu, tão maduro!
Por acaso sortudo,
delas aprendo.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Um Marquês na Cinemateca

Na Cinemateca de Curitiba, estréia de "A Que Deve a Honra da Ilustre Visita Este Simples Marquês?"

Filme da terra,
fui na cinemateca
com muita pressa.

Seja ficção 
ou documentário,
algo me fala.

Preto-e-branco
ou em cores diversas
brilha no escuro.

Já vi Fellini,
poesia de Pasolini,
com Chaplin sorri.

Muitas estreias,
reprises de clássicos,
cinema enfim!

Tivesse tempo,
com certeza mais vezes
aqui estaria.

Keller e Urban
dessa vez trouxeram um
singelo Marquês.

Foi tanto prazer 
nesse curta metragem
que viver me fez!

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Londrina Chuvosa ou Prece dum Ateu

Premonitória
nuvem escura surge
nesta história.

Sempre buscando
ao longo desta vida
algo impreciso.

Tal como rio
nesta cidade natal
nada é igual.

Em suas margens
muito à distância
vejo miragens.

Foi no passado
vir a ser no presente
algo pensado?

Fado, destino?
Escolha de caminho?
Sorte ou tino?

Crio passado
imagino um futuro
presente me passo.

Houvera deus
confortável seria
na hora d'adeus?

Mas tal figura,
sinto muito, não passa
de criatura!

Minha resposta
se interessar possa
será exposta.

Faço o que posso,
pode não ser muito, mas
não há remorso.

O que significa
a nuvem que na prima
estrofe fica?

Nuvem escura
de imagem se torna
em água pura!

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Alguns ais em menos versos

Congresso acadêmico?
Papo anêmico.

Chega de lorota,
não sou idiota!

Nada mais chato?
Talvez um carrapato!

Entediado
fico angustiado!

Nossa que porre!
Alguém me socorre?

Sem fantasia 
acabo com azia.

Chegou a hora
de eu cair fora.

Tanta pavonice
causa parvoíce.

De todo lado
discurso empolado.

É um diz que me disse 
com tanta sandice.

Fico sacudo
com professor papudo.

Em qualquer campo
esperto acha trampo.

Faz mal pra mente
conversa dessa gente.

No coffee-break
comi como um xeique.

Fui eu que cansei 
desse era uma vez?

Meu sentimento 
é de desalento.

Mas sinto prazer
em versos fazer.

Fechando tema
apresento meu lema:

No cotidiano,
vida vou levando
piano, piano.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Inspirado em Affonso Romano de Sant'Anna

Poesia
é silaba
é métrica

Sempre verso
talvez rima

Inverso proseio
sem rima poeto.

domingo, 3 de novembro de 2013

Domingo no MON

Quase dez horas
pátio das esculturas
imóvel também.

Quatro mulheres
fria brisa matinal
calma solidão.

Pra desenhistas
espalhados na praça
MON se exibe.

Menino com mãe
pai empurra carrinho
pardal sobrevoa.

Algo que busco
a mim não se revela!
Talvez no museu.

Porta se abre
ingresso se entrega
parto em busca.

Logo no começo
janela entelada
sugere olhar.

Ligo câmara
caminhando registro
olhar sob meus pés.

Não sei se busquei
ou acaso que trouxe
enfim encontrei.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Ônibus Amarelinho

Para onde vai?
Escola ou trabalho,
tem gente demais!

De qualquer jeito,
passageiros enfrentam
este mal feito.

Entra na frente, 
um assento no fundo,
obesa rente!

Sinal avisa:
Parada solicitada.
Escada lisa.

Diversidade 
de destinos, caminhos 
em unidade. 

Variedade 
nos semblantes, contrastes 
em vidas errantes. 

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Aeroporto

Sala de espera:
cara com cacoete
bocejo alto.

Chamada final:
portão número oito,
homem afoito.

Abraço forte
no saguão de entrada
criança chora.

Parte pra longe
personagem estranha
cara de monge.

De brigadeiro,
céu desanuviado
com granulado.

De uniforme,
comissária repete
velho informe.

Aceita bala?
Lembrança de menina
numa esquina.

Corredor grande,
passo insinuante,
olhar vagante.

Livro de bolso
companheiro constante
do viajante.

Com nuvens cinzas
me vejo refletido
no anoitecer.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Inspirado por conversas com empresárias

Leque armado
parece ser pesado,
mas leve sente.

Redemoinho
repleto de emoções:
realização.

Caso de paixão:
na decisão compartilha
tanta emoção.

Permanecendo
presente no mercado:
felicidade.

Na roda viva,
mulher empresária
sempre se vira.

Fazendo planos,
liderando pessoas:
mirando mundo.

Inacabada
caminhada, constante
viver vir a ser.

Livre arbítrio:
por escolhas próprias
faz seu caminho.

Encantamento
na conversa: negócios
realizados.

Seu jeito de ser
com olhar feminino
traça destino.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Sete dúvidas instrumentais e uma debochada

Nesse espelho
manchado e pequeno
cabe reflexão?

Em desalinho
de pensamento, uso
fio de prumo?

Precisa régua
para escrever certo
em linhas tortas?

Um escafandro
ajuda o professor
falar profundo?

Massa corrida
serve para preencher
vazio mental?

Discurso fraco
com tinta fosforescente
fica brilhante?

Sauna escura,
por razões obscuras,
atrai mais curas?

Sob luz de vela,
velha matrona vira
jovem gatona?

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Clima de Maluco

Na Curitiba
ao cair da tarde
frio tardio.

Nuvens escuras
no céu se acumulam
vidas duras.


No lusco-fusco
do entardecer vida
passada busco.


Bem primaveril
crepúsculo me lembra
sonho infantil.

Por trás da porta
em seu robe de chambre
calor exporta.

Sem muito pudor
tampouco despudorada
lhe chama amor.

Sorri tímido
com convite ouvido
fica rendido.

Em noite fria
com um pouco de vinho
vem calmaria.

Sonha com ela
acorda meio suado
abre janela.

Sem que nem pra que
não mais que de repente
de novo quente.

domingo, 6 de outubro de 2013

Experimentando ao estilo tradicional

Entre montanhas
riacho insinua
águas rápidas.

Lua minguante
em noite estrelada
brisa cálida.

Mata fechada.
De repente um salto:
gato do mato.

Na primavera,
dia entardecendo,
sombras no bosque.

Aquela garça
voejando suave
meu olhar guia.

Vale de pedras:
neblina matutina
esvanecendo.

Enterrada por
gralha azul gulosa
brota a pinha.

Folhas secando,
árvore desnudando
alma soturna.


segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Notas Cariocas ou da Infância

Me dá sorvete?
Moleque Cassiano
me cativando.

Ruan ao lado,
picolé pede também
sorriso que vem.

De prosa fácil
guris tão vendedores
esqueci dores.

Fora de casa
na manhã domingueira
sobem ladeira.

Nessa idade
Cassiano e Ruan
por que tal afã?

Duas crianças
na labuta infeliz,
vida meretriz.

No rosto mantêm
cada um seu sorriso
pois é preciso.

Esses meninos
com outros se parecem
igual padecem.

Engraxate
com caixa pendurada
em que viraste?

Flanelinha
em tantos cruzamentos
só moedinha!

Vai goma aí?
Menina desabrocha
vida que é rocha.

Será utopia
apenas brincando ver
crianças um dia?

domingo, 22 de setembro de 2013

Surpresas, estranhamentos, espantos e sustos.

Não esperado,
surpreendentemente
inusitado.

Indesejado,
causou espanto ato
insuspeitado.

Em pouco tempo
ficou mal humorado
com contratempo.

De forma clara,
irritação mostrou com
estranha cara.

Estranhamento
com um salomônico
julgamento.

Felicidade
estampada no rosto
com novidade.

Surpresa feliz
boquiabertando
esperto petiz.

Tão espantada
com a gratuidade
manifestada.

Surpresa, seja
boa ou ruim, pode
dar brotoeja.

Divertimento
parou com repentino
espantamento.

Inevitável
trouxe um resultado
inaceitável?

Nossa que susto!
Disse ao ver da mulher
cair o busto.

Assustadora
demonstração popular
demolidora.

Na sexta treze,
brinque com superstição
mas despreze não.

domingo, 15 de setembro de 2013

Obscenos? Depende do que você lê!

De chope então,
pede jovem marota,
sorri velho garção.

Minha madrinha
na venda pedia: tem
cara e alho?

Foi lá em Castro
que Zulmira encapou
um firme mastro?

Pinto de preto
no salão de beleza
lá do coreto.

Toda molhada
sereia cantou para
rapaziada.

Foi com consolo
que amigo resolveu
caso do bolo.

sábado, 14 de setembro de 2013

Tarde de Férias

Vou me tornando
um escriba tardio.
Em versos vicio.

Na pausa breve
procuro no cinema
mais novo tema.

Na cinemateca,
Amor que nos consome,
antes da fome.

Em rua estreita,
andarilho em trapos
de guardanapos.

Não anda assim!
Diz jovem biba feliz
para aprendiz.

Entro em sebo,
procurando a esmo
poesia mesmo.

Um macchiato
sabendo meio amargo
bebo no largo.

Foi no chafariz,
que do cavalo, água
saía do nariz.

Largo da Ordem,
passeio dessa gente
indiferente.

Passeio Público,
foi lá que vi Dona Flor
mais seu Agenor.

Sorrisos amplos,
la vai velha senhora
mundo afora.

Com tanta graça,
sorrindo a velhota
a dor esgota.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

ENANPADIANOS

Ser diferente?
Coloque adjetivo
pleonasmente.

Sem um conceito
definido, se mede
de qualquer jeito.

Em que espaço
acadêmico entra
rima que faço?

Com rima pobre
revelo que na ciência
mais vale cobre.

Muita prática
acadêmica me é
enigmática!

Conversa mole
faz barulho maior que
gaita de fole.

Indisciplina
minha, tanta regração
não elimina.

Faz protocolo,
mas complexidade lhe
surge no colo.

Para ser curto,
com certeza sou eu
que não mais curto!

domingo, 8 de setembro de 2013

Hipódromo

Fim de inverno
acelera coração
na reta final.

Anoitecendo
tropel acelerado
papel rasgado.

Aposta no oito
barbada do páreo
coração afoito.

Égua tordilha
três corpos na frente
que maravilha.

Cavalariço
garante que é ponta,
mas falta viço.

Imagine você:
alazão favorito
não deu nem place.

Na pule de dez
última esperança
não foi dessa vez.

Lembrei de meu pai
com filhos no jóquei
da alma não sai.



quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Uma Garça no Passeio

Garça branquela
no topo da árvore
barco a vela.

Garça branquinha
em cima da árvore
tão maluquinha.

Garça esguia
no alto do galho me
serve de guia.

Garça balança
no verde das folhas
nos dá esperança.

Tão elegante
pousa suave sem que
algo espante.

Garça sozinha
no céu da manhã
engraçadinha.

Veio com graça
adornar minha vida
esbelta garça

Nessa manhã
nas bandas do Passeio
branca como lã.

Garça rasante
solando no espaço
extasiante.

É flutuante
garça solitária
no sol levante.

Vai ondulante
galante aseando
sobre passante.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Meus Reflexos no Espelho Mágico de Quintana

Espelho Mágico – Mário Quintana
Meus Reflexos
Da Observação
Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio.

Não se irrite
porque você vai ficar
só com rinite.
Do Estilo
Fere de leve a frase... E esquece... Nada
      Convém que se repita...
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita.

Mil vezes dita
palavra em que você
nem acredita.
Das Belas Frases
Frases felizes... Frases encantadas...
      Ó festa dos ouvidos!
Sempre há tolices muito bem ornadas...
      Como há pacóvios bem vestidos.

Frases felizes
não conseguem resolver
tantos deslizes.
Do Cuidado da Forma
      Teu verso, barro vil,
No teu casto retiro, amolga, enrija, pule...
Vê depois como brilha, entre os mais, o imbecil,
      Arredondado e liso como um bule!

Vê como brilha
areia branca no sol
daquela ilha.
Dos Mundos
Deus criou este mundo. O Homem, todavia,
Entrou a desconfiar, cogitabundo...
Decerto não gostou lá muito do que via...
E foi logo inventando o outro mundo.

Deus no mundo
surgiu da mente de um
meditabundo.
Das Corcundas
As costas de Polichinelo arrasas
Só porque fogem das comuns medidas?
Olha! Quem sabe não serão as asas
De um Anjo, sob as vestes escondidas...

Serão as asas
da imaginação as
ardentes brasas?
Das Utopias
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

Inatingíveis
os múltiplos orgasmos
viram risíveis.
Dos Milagres
O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!

Com vinho tinto
tristeza se torna um
corpo extinto.


Das Ilusões
Meu saco de ilusões, bem cheio tive-o.
Com ele ia subindo a ladeira da vida.
E, no entretanto, após cada ilusão perdida...
Que extraordinária sensação de alívio!

Cada ilusão
perdida me deixa de
mal com a vida.
Dos Nosso Males
A nós nos bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais...

Pequenina
dor de cabeça me deu
ninfa menina.
Da Eterna Procura
Só o desejo inquieto, que não passa,
Faz o encanto da coisa desejada...
E terminamos desdenhando a caça
Pela doida aventura da caçada.

Doido desejo
sacou o passarinho
do realejo.
Do Pranto
Não tente consolar o desgraçado
Que chora amargamente a sorte má.
Se o tirares por fim do seu estado,
Que outra consolação lhe restará?

Tanto pranto
jorrando por causa de
um desencanto?
Do Sabor das Coisas
Por mais raro que seja, ou mais antigo,
Só um vinho é deveras excelente:
Aquele que tu bebes calmamente
Com o teu mais velho e silencioso amigo...

Raro que seja,
meu anseio por você
dá brotoeja.
Dos sistemas
Já trazes, ao nascer, tua filosofia.
As razões? Essas vêm posteriormente,
Tal como escolhes, na chapelaria,
      A forma que mais te assente...

Filosofia
na chapelaria já
não mais faria.
Do Exercício da Filosofia
Como o burrico mourejando à nora,
A mente humana sempre as mesmas voltas dá...
Tolice alguma nos ocorrerá
Que não a tenha dito um sábio grego outrora...

Sabe o grego:
na pós-modernidade
perdeu emprego.
Das Ideias
      Qualquer ideia que te agrade,
      Por isso mesmo... é tua.
O autor nada mais fez que vestir a verdade
Que dentro em ti se achava inteiramente nua...

Nada mais verdade
que qualquer pensamento
que lhe agrade.
Da Amizade entre Mulheres
Dizem-se amigas... Beijam-se... Mas qual!
      Haverá quem nisso creia?
Salvo se uma das duas, por sinal,
      For muito velha, ou muito feia...

Amigas se beijam
enquanto pelas costas
farpas lampejam.
Da Felicidade
Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura,
      Tendo-os na ponta do nariz!

Ponta do nariz
segura os óculos
da imperatriz.
Da Realidade
O sumo bem só  no ideal perdura...
Ah! Quanta vez a vida nos revela
Que “a saudade da amada criatura”
É bem melhor do que a presença dela...

Sofrendo sem fim,
saudades da amada,
foi feliz com Quim.
Do Amoroso Esquecimento
Eu, agora – que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

Penso mais em ti
ouvindo músicas do
Quarteto em Si.
Da Discrição
Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo de teu amigo
Possui amigos também...

Se teu amigo
tem amigos, segrede
pro teu umbigo.
Da Preguiça
Suave Preguiça, que do mau-querer
E de tolices mil ao abrigo nos pões...
Por causa tua, quantas más ações
      Deixei de cometer!

Ai que preguiça!
Fernando não cansa de
encher linguiça!
Do Ovo de Colombo
Nos acontecimentos, sim, é que há Destino:
Nos homens, não – espuma de um segundo...
Se Colombo morresse em pequenino,
O Neves descobria o Novo Mundo!

Deu tudo certo
porque Colombo teve
ovo por perto.
Do Mal da Velhice
Chega a velhice um dia... E a gente ainda pensa
Que vive... E adora mais a vida!
Como o enfermo que em vez de dar combate à doença
Busca torna-la ainda mais comprida...

Longa velhice,
além das rugas causa
também calvície.
Da Moderação
      Cuidado! Muito cuidado...
Mesmo no bom caminho urge medida e jeito.
Pois ninguém se parece tanto a um celerado
      Como um santo perfeito...

Nosso prefeito
finge tanto, parece
santo perfeito.
Da Calúnia
Sorri com tranquilidade
Quando alguém te calunia
Quem sabe o que não seria
Se ele dissesse a verdade...

Tranquilidade
para bem suportar
humanidade.
Da Experiência
A experiência de nada serve à gente.
É um médico tardio, distraído:
Põe-se a forjar receitas quando o doente
      Já está perdido...

Experiência
não é a mesma coisa
que sapiência.
De como Perdoar aos Inimigos
Perdoas... és cristão... bem o compreendo...
      E é mais cômodo, em suma.
Não desculpes, porém, coisa nenhuma,
Que eles bem sabem o que estão fazendo...

Bem compreendo,
mas sem perdão, nenhuma
coisa entendo!
Da Condição Humana
Se variam na casca, idêntico é o miolo,
Julguem-se embora de diversa trama:
Ninguém mais se parece a um verdadeiro tolo
Que o mais sutil dos sábios quando ama.

Um verdadeiro
tolo faz rir mesmo sem
um picadeiro.
Da Própria Obra
Exalça o Remendão seu trabalho de esteta...
Mestre Alfaiate gaba o seu corte ao freguês...
      Por que motivo só não pode o Poeta
      Elogiar o que fez?

Em poucos versos
vou descrevendo como
somos diversos.
Poemas de Mario Quintana extraídos de Quintana de Bolso: Rua dos Cataventos & Outros Poemas publicado pela L&PM Pocket, vol. 71, 2013.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Palhaço

Apenas um lápis
o palhaço transforma
com muitas faces.

Sendo risonho
com traço diminuto
fica tristonho.

Com sobrancelha
triangular, um chinês
se assemelha.

Na branca face
uma pinta vermelha
é luz que nasce.

Sapato largo
com roupas coloridas
riso amargo.

Finge tristeza
falseando lágrima
nos dá beleza.

Com seu andor
você, Palhaço, espanta
toda nossa dor .

Com seu talento
fácil nos faz esquecer
o desalento.

Toda criança
sorri contente quando
pança balança.


quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Refletimentos

Refletimentos:
combinando reflexões
com sentimentos.

Iluminado
por estrelas, caminho
nessa jornada.

Poucas palavras
muito dizem quando o
poeta sente.

Sexto sentido
em um mundo virtual
lhe faz sensual.

Menina-moça
causa deslumbramento.
Perco fôlego.

Veio aos poucos
suavemente fincou
raízes fundas.

Jovem menino
tão belo que desperta
velho desejo.

Mente divaga
deitada no gramado
de forma vaga.

Mar revoltado
perto de meu coração
fica domado.

Havendo chance
abandono tristeza
em um só lance.

Entre imagens
em preto e branco sons
silenciosos.

Sei o que não quero
mas será que desejo
algo que não seio.
(após ler Décio Pignatari)

No desenlace
do plano de negócio
empresa nasce.

Tão enfadonho
surpreendentemente
me fez risonho.

Tanta mesmice!
Do tédio escapo com
são criancice.

Um gato pardo
tão alto no alto mia
com autonomia.

domingo, 4 de agosto de 2013

Casamento(s)

Para aqueles que já passaram por essa aventura humana

Para conviver
a dois, quase sempre, um
tem que se render.

Ao acordar
virar para o lado
na pele relar.

Horas distantes
no doce reencontro
feliz como antes.

Para solidão,
ela ou ele sempre
tem resolução.

Sobre relação
ela parece adorar
tanta discussão.

Homens de Marte,
mulheres de Vênus, só
com muita arte.

Do mesmo sexo,
ou de diferentes, vem
pequena morte.

De mãos dadas
na Praça da Espanha
dando risadas.

Se não durou,
no fim dói demais, mas
algo bom restou.

Seja como for
tudo vale a pena
por esse amor.