Assim, devagar, na beleza estranha, procuro amar.
É música e romance e, talvez, um piano.
Dela desejo, na aula enfadonha, na boca o beijo.
A primeira vez, no banco da praça escura, que desfaçatez!
Pele morena, goiaba madura, não falta desejo!
Sotaque francês faz da pesquisadora sonho deste mês.
Chegou na cama, caiu no sono rindo de minha flama.
Só no quintal, na penumbra vi as curvas do voo dum belo bem-te-vi.
Menina sapeca brinca no jardim tão levada da breca.
Em seu sorriso, luz para meu coração. Me ilumine!
No céu nublado, sol e lua brilhando, lado a lado.
Pingo a pingo, cai chuva grossa ao fim do domingo.
Cedo no bosque, as plantas o orvalho lacrimejavam.
Luar brilhante reflete ondulante no mar vazante.
Chove lá fora, mas aqui dentro seca a esperança.
No meu caminho haverá um momento de desalinho.
Boca maldita, na rua das Flores, tem gente aflita.
Eta pasmaceira! Esperar a jardineira me dá uma soneira.
Desço do tubo, caminho entre risos, feliz ao cubo.
Ruídos urbanos, buzinas e martelos nos dias insanos.
Sentir saudade faz parte da vida em qualquer idade.
Escolha feita, de passagem, na vida não fiz desfeita.
Rascunhando a vida, no improviso sigo sonhando.
Indo a esmo. Minha imaginação comigo mesmo.
De ão em ão, vou preenchendo espaço com a ilusão.
Busco memórias, tantas vidas em fila, cacos da história.
Fragmentos sutis da vida banal formam conto sensual.
Bem abraçados, no calçadão, dois jovens enluarados.
Imaginação de poeta saudade do futuro tem.
Ensimesmado, pensava em si, em mi(m), enmimesmado.
Me perdoem a ousadia, mas à moda de Manuel Bandeira, fiz minha antologia.